segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

estranhamento

qualquer coisa

É estranho caminhar na rua e ver que está tudo normal.
A mulher que pede esmola, o ar poluído, o cara no carro, o outro tomando coca-cola. Ele paquera, ela fala no celular e todos se arrastam, se suportam. Parece que estamos executando um programa, levando uma vida artificial e previsível até o momento em que alguém desliga o botão - a morte.
É estranho pensar que neste cenário alguém faça haicais, tente aprender a fazer blog de poesia e mudar as coisas. Eu só. Eu que sufocantemente sobrevivo e nos lampejos de vida, respiro. É estranho pensar que exitem no mundo milhares, talvez milhões de malucos sufocados como eu respirando pelas frestas de luz. É eles que realizam a fotossíntese espiritual e espalham a consciência de que precisamos permanecer vivos e atentos.
Afinal, na mais límpida realidade, tudo é perigoso, tudo é divino maravilhoso.
___________________________________
uns falam
outros faZEN

falar lacônico não é
fazer
belo discurso é não-curso

falar
um risco vital no silêncio
[só se ato cósmico
de palavra transatômica

transformando a vida]
(de poesia-zen-anarquia)
______________________________________________________
se eu pudesse
faria um poema
contra a guerra
(de poemas manifestos)
_________________________________________________
possibilidades
...fazer o corpo humano um instrumento de prazer e não de labuta.
Herbert Marcuse


a vida que é lavoura
poderia ser também balet
às vezes lavoura
às vezes balet

mas ela é máquina
dióxido de carbono
engrenagem tijolo
sola de sapato gasta

querem-na gélida e ofuscante
e ela é o calor inerte de nossos atos no escuro
dias e noites sucessivas
plenos de segundos maçantes

poderia ter asas
ou saber ventar
reinventar diariamente – leve e doce
o plúmbeo ato de ser
(de anarcotráfego)

Um comentário:

  1. É bom saber de alguém que tem um olhar diferente das unanimidades expressa isso com poesia.
    Sil

    ResponderExcluir